PSICOLOGIA PARA TODOS

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«BULLYING» 3

Hoje, quando saí de casa, uma pessoa minha conhecida abordou-me e disse que tinha lido o post sobre «Bullying» 2, mas queSaude-B desejava mais informações para poder falar no fim-de-semana com o filho que também tinha duas crianças pequenas, de 8 e 10 anos.Depois de recomendar verbalmente que consultasse sempre este blog começando pelo post “HISTÓRIA DO NOSSO BLOG – sempre actualizada”, de Novembro de 2009, resolvi transcrever como complemento da informação dada, trechos do capítulo situado entre as páginas 119 e 124 do livro “Joana, a traquina ou simplesmente criança?”

A CURIOSIDADE DOS PAIS                                
Deixei-os descansar um pouco para retomar a exposição que estava a fazer, dizendo:Joana-B
– Existem mais fugas em lares que não são acolhedores do que naqueles em que a convivência e o ambiente são bons. Além disso, os pré-adolescentes têm necessidade de muitas informações e lutam com imensas dúvidas que devem ser esclarecidas. Se não existir no contexto familiar uma pessoa idónea que os possa esclarecer ou apoiar, esta ajuda é procurada fora do ambiente «natural». Vemos, por isso, muitas crianças formarem os seus grupos para se apoiarem naturalmente umas às outras: é a força da afiliação (K). Nos lares em que estive a dar apoio, verifiquei que essa necessidade de apoio dos grupos externos diminuía quando o apoio interno aumentava. E repare que eu não era familiar de qualquer deles nem tão pouco do mesmo país. Psicopata-BAté pelo meu sotaque e pela construção das frases eles conseguiam facilmente verificar que eu não era inglês.
– Mas, damos ou não a chave da porta da casa?
– Isso é uma opção a tomar ponderando as vantagens e as desvantagens da situação. Exige a resolução do conflito entre situações incompatíveis de dupla vantagem/desvantagem (K). Duas hipóteses, entre outras, são:

  •  Os pais podem ficar acordados e abrir a porta. Demonstra interesse pelos filhos e não deixa muita possibilidade de se repetirem situações semelhantes, a não ser em ocasiões especiais.
  • Entregando a chave, os pais podem dormir descansados, se é que de facto descansam, mas facilitam futuras saídas, Acredita-Bproporcionando oportunidade para acontecimentos por vezes desagradáveis.

Porém, tudo pode depender das condições em que a família vive, da idade da criança e das razões pelas quais volta tarde a casa. Além do mais, uma conversa franca, calma e sem preconceitos, pode trazer a lume muitas coisas que de outro modo não seriam detectadas. Um bom fim-de-semana ou uns dias de férias, facilitam esta interacção já que quebram a rotina diária, que numa cidade pode, às vezes, ser muito absorvente, isoladora e geradora de falta de interacção familiar. É o preço que se paga pela «civilização». Nas aldeias, a situação pode ser diferente já que o meio é pequeno e facilmente se sabe tudo o que se passa no seio de cada uma das famílias do bairro embora, nos tempos actuais, isso seja difícil.Consegui-B
– Isto não é simples e exige muita ponderação, calma e bom senso – disse o João, acrescentando: – Quanto à parte escolar, julgo que a Joana vai bem; mas em relação à influência das colegas como devemos agir?
– Já ouviram falar, certamente no biólogo/psicólogo suíço Piaget. Segundo a sua teoria de desenvolvimento, o período entre os 9 e os 12 anos é o da «inteligência concreta» no qual predominam a compreensão das relações de ordem temporal, duração, classificação, seriação, quantidade e reversibilidade. A seguir, dos 13 aos 15 anos, no período das operações formais, a criança desenvolve fundamentalmente a abstracção, conseguindo dissociar a operação do conteúdo da acção, retendo o essencial para a construção ou invenção dum plano novo através da abstracção reflexiva.neuropsicologia-B
– Tudo isso é muito bonito – disse a Fernanda e concluiu: – mas eu quero saber que influências podem ter as colegas sobre a minha filha.
– Como estou interessado em que resolvam as situações não porque vos dei algumas informações, indicações técnicas ou conselhos, como geralmente acontece, mas porque ponderaram e tomaram a vossa decisão com base em esclarecimentos suficientes, estou a tentar transmitir-vos os conhecimentos que estão ao meu alcance para quaisquer decisões futuras. Se eu der «conselhos-respostas», resolvo de imediato a situação actual, dou-vos imensa satisfação (reforço secundário negativo que proporciona a redução da vossa angústia), mas coloco-vos, de futuro, Maluco2nas minhas mãos ou na minha dependência. Isto quer dizer que, no futuro, terão de recorrer a mim sempre que se sentirem aflitos e nunca conseguirão resolver adequadamente a situação por iniciativa própria.
– Mas, concretamente, em relação a… – adiantou a Fernanda, olhando para mim e motivando uma pronta intervenção do João Manuel:
– Olha, Fernanda, deixa ele falar que nós lá chegaremos.
Perante o silêncio da Fernanda, aproveitei a oportunidade para reforçar:
– Ainda bem que pensam assim. Duas pessoas ouvem e pensam melhor do que uma e podem discutir, chegando a uma solução mais satisfatória. Para a Joana, é esta a vantagem da família unida: pode proporcionar-lhe mais apoio. No texto de que já vos falei, verifica-se que “os grupos de colegas das escolas suplementam a família como Depressão-Borganizações de socialização“. Além disso, as rejeições e as demasiadas restrições podem estar associadas a um funcionamento inadequado. O envolvimento positivo com o progenitor do mesmo sexo é um factor benéfico para a aquisição de um bom papel sexual, sendo o mau relacionamento com a mãe prejudicial para a rapariga.
Como me viu fazer uma pausa, o João Manuel prontamente perguntou:
– E então o que é que fazemos?
Eu continuei:
– Ainda não acabei, mas estou a ganhar fôlego. Sabe que os desvios sociais se relacionam com o desajustamento nas Difíceis-Brelações entre os pais, com medidas punitivas e com outras relações familiares que intervêm no bom desenvolvimento da capacidade para relações interpessoais? Já viram porque é que eu me estou a preocupar cada vez mais com a família unida? O ponto fundamental da questão é a união e o bom entendimento familiar, especialmente quando a família é nuclear como a vossa: pai, mãe e filhos. Se assim não fosse, existindo já bastantes conhecimentos científicos sobre o comportamento humano e infantil, englobaríamos todas as crianças em jardins-escola, infantários, colégios, etc. (Bronfenbrenner, 1974), onde poderia ser dada uma educação tecnologicamente saudável e cientificamente correcta! Gostariam? Qual a importância do factor de relacionamento humano? Qual a importância das modelagens e identificações? Já pensaram nisso? Seria bom que todas as pessoas do mundo utilizassem o mesmo uniforme? Que monotonia! Se ainda não pensaram, podem fazê-lo enquanto me Psi-Bem-Cdeixam descansar um pouco e pedir uma bebida que me pode ajudar a aclarar as ideias.

Aproveitando o seu silêncio, perguntei:
– Então, ninguém fala? Vão-me deixar a noite inteira a falar sem dizerem aquilo que pensam?
Felizmente, ninguém respondeu, dando-me assim mais algum tempo para meditar, magicar, imaginar, pôr os prós e os contra das diversas situações e ordenar tudo isso na minha mente.
Tinham-se passado mais de cinco minutos de silêncio, ao som de uma música calma e envolvente do Armandinho que convidava todos à reflexão. Pensei: “Que sorte a minha! Parei de falar num momento em que também a música me ajuda a reflectir. Nem sempre a modificação do comportamento orientada, surte os efeitos desejados. As Imagina-Bcontingências do momento têm uma quota-parte de intervenção bastante grande. Por essa razão, porquê não arriscar?” E com estas lucubrações, exclamei:
– Ninguém diz coisa alguma? Então?
João Manuel olhou para a mulher que parecia não querer sair das suas meditações e adiantou:
– “Então era pastor” mas eu vou explicar o que penso. Concordo com o que diz sobre a influência dos pais, em conjunto, na educação de uma criança. Eu sempre quis isso mas posso não ter tido sorte. O que tem a ver este facto com o que nos queria dizer sobre a influência que as companheiras da Joana podem exercer nela?
Antes que pudesse responder, Fernanda interveio com entusiasmo, dizendo:mario-70
– Calma João Manuel. Dizeres que não tiveste sorte engloba a minha pessoa. O que me parece ser necessário é pensarmos os dois conjuntamente e nunca me furtei a isso. Depois falaremos neste assunto. Agora, gostava de ouvir o Maurício falar na influência que as colegas da Joana podem exercer sobre ela.
– Já que me obrigam a intervir – disse eu, tentando realçar a concordância dos dois – posso continuar a exposição anterior, resumindo de modo ordenado o meu pensamento:
“1º – Se a criança necessita de se identificar com um modelo do mesmo sexo e isso lhe traz vantagens, o progenitor do mesmo sexo é de extrema importância.
“2º – Se o equilíbrio e a interacção familiares servem de exemplo e de fonte de identificação, nada melhor do que uma Bibliofamília unida, que dê os exemplos necessários servindo de modelo e de fonte de identificação.
“3º – Os colegas são fonte e suplemento do processo de socialização. Portanto, vão exercer influência, especialmente no que se relaciona com modelos de comportamento (moda) que não devem ser contrariadas totalmente por outras fontes de influência mais poderosas (pais) do que os grupos do mesmo sexo em que as crianças se isolam nesta idade.
“4º – Qualquer alteração pode ser forçada através da abstracção de que fala Piaget. Esta capacidade está apresentada de outra ma-neira e sob o ponto de vista neuropsicológico, nos livros que a Fernanda esteve a ler.
“5º – Além do mais, a pré-adolescência é muito importante para que a adolescência vá decorrendo de maneira suave e sem grandes sobressaltos.Organizar-B
“Cansado de falar, espero ouvir as vossas contestações.”
Depois da minha intervenção, a Fernanda ficou algum tempo meditativa, antes que começasse a falar:
– Em primeiro lugar, deu-me a ideia de convidarmos para nossa casa as amigas da Joana a fim de as podermos conhecer e falar com elas, para depois orientar a Joana da melhor maneira possível. Assim, ela irá acreditar em nós mais do que nas amigas, especialmente se não mostrarmos hostilidade em relação a elas. Em segundo lugar, a Joana tem de estar mais tempo comigo. Em terceiro lugar, a convivência dos pais entre si e a da Joana com os pais irá favorecer a sua capacidade de «interacção social». Não é assim que os psicólogos dizem? Em quarto lugar, a Joana pode ser moldada com reforços adequados e modelada com os exemplos dos pais, especialmente da mãe com quem se Interacção-B30
pode identificar. Isto quer dizer que se ela chegar a ver a mãe longe do pai pode achar bem que, no futuro, os pais vivam separados. Bolas! Isto é complicado!
– Complicado porquê? – perguntei – se os dois concordam em educar a filha da melhor maneira possível e se dispõem a fazer sacrifícios por causa dela?
– Porque exige uma decisão mais rápida do que eu desejava.
Aproveitando «a deixa», afirmei como se tratasse de um facto consumado:
– Segundo as vossas informações, a decisão está automaticamente tomada, desde que exista possibilidade de transferência de um ou de outro para o mesmo local. O que é necessário é ponderar as condições financeiras e aproveitar o momento oportuno.Psicologia-B
À espera da reacção de qualquer deles, que não chegou, provavelmente dependente de vários factores que não deveria conhecer naquele momento, achei por bem respeitar esses sentimentos e deixar as coisas tal como estavam.”

Depois desta transcrição, é bom ler e pensar profundamente no assunto para prevenir e evitar futuros dissabores. Com este exercício, pode haver, tanto quanto possível, uma familiarização com fenómenos deste tipo que serão recorrentes na nossa sociedade, mas que podem ser evitados se os pais tomarem as devidas cautelas, tal como aconteceu com os pais da JOANA.   arvore

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3 thoughts on “«BULLYING» 3

  1. Anónimo on said:

    Estou a gostar destes postes que me alertaram para uma ligeira perseguição que a minha filha parece estar a ter na escola.
    Já compreendi que é melhor falar com ela suavemente para descobrir a fonte do seu mal-estar.
    A mãe dela vai tartar disso.
    Obrigado pelo alerta.

  2. Anónima on said:

    Se bem entendi este poste, julgo que atribui também à modelagem e identificação a origem destes problemas.
    Quer dizer-me se tenho razão, como e porque? Suponho que este poste foi feito por causa da minha pergunta. Gostaria de poder abordar este assunto com o meu filho hoje à tarde e explicar que estes são alguns dos mecanismos que ajudam a fabricar um bully.
    Tenho o velho livro A PSICOLOGIA NO DIA-A-DIA, de Clássica Editora.

    • Veja de imediato os posts sobre modelagem, identificação e reforço vicariante. Entretanto, vou tentar fazer mais um post com uma resposta mais completa. A PSICOLOGIA NO DIA-A-DIA não chega.
      Mário de Noronha

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